Ruínas

Prometi tantas vezes que não deixaria a casa abandonada, que faria visitas frequentes pra garantir que tudo permanecesse em ordem. Prome...


Prometi tantas vezes que não deixaria a casa abandonada, que faria visitas frequentes pra garantir que tudo permanecesse em ordem. Prometi que regaria as flores, que apararia a grama, que abriria as janelas, que tiraria a poeira. Promessas, promessas e mais promessas. Resolvi ir à casa hoje, depois de tanto tempo que nem sei dizer. Eu não fazia ideia do que encontraria. Caminhei lentamente, me preparando para o que veria, e chegando ao portão me dei conta de que nenhuma preparação seria suficiente. O portão, antes todo pintado de branco, agora estava descascado, enferrujado. Não sei nem o que dizer sobre o quintal. Não tenho palavras para expressar o que senti. Um quintal que sempre foi tão alegre, tão florido e tão iluminado, repleto de borboletas e pássaros - que se sentiam em casa ali, um quintal que me remetia há um passado bom, em que sorrir era rotina e o sol era sempre bem vindo agora se resumia à mato e limo. Lembro que eu sentava em um banco de madeira que ficava junto à casa, de frente para as margaridas, sentava ali tomando meu café e nós tínhamos longas e boas conversas. Elas não eram boas conselheiras, eram muito extremistas, não tinham um meio termo. Bem me quer, mal me quer. Mas sempre me ouviam, atentamente e pacientemente. Eram ótimas ouvintes. O banco estava podre e não havia sinal algum de que ali um dia existiram flores tão atenciosas. Eu sabia que o pior ainda estava por vir, me aproximei da porta e tentei abrir. Ela estava emperrada, ou não queria visitas, me repelia. Eu não era mais bem vinda. Forcei a entrada e ao olhar o interior da casa eu paralisei. Como pude deixar aquilo acontecer? Estava tudo escuro, virado, quebrado. Eu chorava enquanto lembrava de como ela era, do sol batendo na janela, do cheiro de flor, do canto dos pássaros, da alegria. Agora só sobraram ruínas.

2 comentários

  1. OO tempo é senhor de tudo. Constrói, desconstrói, traz e leva. Ruínas são também história, história que chega ao fim também é chance de outros começos. Saudades, Ci! Um beijo grande e abraço apertado!

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  2. Bonito texto. Mesmo depois de tempos sem escrever, você jamais perderia o dom, era claro.

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