Bens Preciosos

Eu estava voltando para casa depois de uma noite muito agradável e cheia de música, quando fui abordada por um menino. Eu fiquei assus...


Eu estava voltando para casa depois de uma noite muito agradável e cheia de música, quando fui abordada por um menino. Eu fiquei assustada, era tarde, estava muito escuro, e nós dois éramos as únicas pessoas naquela estreita rua. Ele me pediu um trocado, mas com um olhar ameaçador. Ou eu vi ameaça onde só havia fome, frio e desespero? Não sei dizer, sei que tenho um certo pânico desses encontros e acabo sempre pensando no pior. Dei-lhe as moedas que tinha no bolso, segurei minha mochila com força e segui o mais depressa que pude. No dia seguinte comentei o ocorrido com um colega de trabalho e disse que o meu medo era que o menino levasse minha mochila, e ele comentou em tom de brincadeira: mas nem tem nada que preste nessa bolsa. Eu fiquei extremamente ofendida, ele não sabe o que carrego na mochila, ele nunca viu. Como ousa dizer que não carrego nada que preste? Voltei para minha mesa, peguei a mochila e fiquei olhando pra dentro dela, pensando. Além de documentos e uma sombrinha, afinal, eu moro em Curitiba, eu carregava Clarice Lispector, um CD da banda que mais tenho ouvido nos últimos tempos, ingressos para um show muito esperado e um caderno cheio de anotações e divagações. Isso tudo é parte da minha vida, é parte de quem eu sou. O comentário daquele garoto me atingiu em cheio, foi como se ele tivesse dito que minha vida não prestasse. Guardei a mochila e cheguei a conclusão de que ela precisa valer um pouco menos, para o caso de eu perdê-la.

2 comentários

  1. Mania das pessoas colocarem valor nas nossas coisas. O afeto é algo tão inestimável e insubstituível. Mas eu gostei da forma como o texto terminou, porque independente do que aquele garoto ache, o valor da mochila não se alterou.

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